Programa acompanha produção do pescado em 30 comunidades
Cruzar o Rio Paraguaçu é ver saveiros, barcos e canoas. A típica paisagem do Recôncavo, seja nos rios ou mares, tem um personagem pra lá de especial: o pescador, aquele que depende da vida das águas para tirar o seu sustento. A construção da Unidade Paraguaçu da Enseada implicou em um processo de dragagem que aconteceu em dezembro de 2012 até março de 2013. Os impactos previstos foram identificados, estudados e mitigados pelo empreendimento através de normas de órgãos ambientais como o Instituto de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Isso promoveu a criação de 14 programas de monitoramentos ambientais, dentre eles alguns que merecem destaque, como o do desembarque pesqueiro.
O programa consiste no acompanhamento diário da produção pesqueira em toda a Área de Influência do Estaleiro como Maragojipe, Salinas da Margarida, Saubara, Cachoeira e São Félix. Para conseguir cumprir essa missão, cerca de 30 comunidades pesqueiras são monitoradas nos vários pontos onde chegam seus barcos com pescados. Em cada um desses pontos, é feita a identificação e pesagem de todo o produto pesqueiro do dia. Entre abril de 2012 e março de 2013, nas comunidades pesqueiras onde foi realizado o monitoramento dos desembarques, foram capturados e desembarcados um total de 554,5 toneladas de pescado e marisco (moluscos, camarões e siris). Nos mesmos meses, equivalente aos anos de 2013/2014, esses dados chegaram a 542 toneladas.
“Esses dados são tabulados para que seja possível enxergar como a produção da pesca está se comportando nas diversas áreas analisadas, bem como as possíveis interferências do empreendimento nessa produção. Já estamos no terceiro ano de monitoramento, que foi iniciado antes do início das obras do Estaleiro, pois é importante termos pelos menos 1 ano de dados antes da interferência do empreendimento. Criamos essa linha de base que serve como uma fotografia da situação da pesca antes da chegada do empreendimento. Esse programa acontece com o trabalho de técnicos habilitados e 11 pessoas da comunidade contratadas pelo Estaleiro. Temos uma equipe experiente que gera informações confiáveis que são apresentadas continuamente ao Ibama”, disse Pablo Cotsifis, sócio-diretor e biólogo da BMA Ltda.
Segundo ele, esse monitoramento foi ainda mais importante durante o período da dragagem, quando era afirmado que a quantidade do pescado estaria diminuindo. “Trabalhamos com dados reais que estávamos coletando diariamente. A pesca se manteve com a mesma dinâmica anterior. Com os dados que tínhamos antes e de depois da construção do empreendimento, conseguimos fazer uma comparação que mostrou que não houve impacto significativo à pesca”, revelou o biólogo.
Pescar pensando no futuro
O programa tem a importância de garantir o padrão da pesca ao longo do tempo, além de aproximar a comunidade pesqueira e o Estaleiro. “Conseguimos dialogar com as comunidades e associações sobre qualquer tipo de variações na pesca, que não necessariamente tem relação direta com impactos causados pelo empreendimento. É importante lembrar que juntamente com a existência de um grande empreendimento como o nosso, existem ações predatórias como pesca com explosivos ou com redes de malhas finas, além do desrespeito ao período do defeso. Temos no nosso Centro de Referência, na comunidade de Enseada, dados relevantes para compartilhar com o pescador que o ajudará a entender a dinâmica da produção pesqueira da sua região”, explicou Caroline Azevedo, gerente de Sustentabilidade da Enseada.
Para ela, programas deste tipo são esclarecedores de uma realidade difícil de ser analisada, pois existem diversos fatores que reconhecidamente impactam o ambiente pesqueiro em diferentes graus. “No caso do Recôncavo Sul, podemos citar a existência de empreendimentos como o Estaleiro e a barragem de Pedra do Cavalo somados às ações predatórias de autoria, muitas vezes, da própria comunidade pesqueira”, afirmou a gerente.
João Genésio, pescador de Saubara, conta que não percebeu grandes alterações no pescado após o início da implantação do Estaleiro. “Para mim continua a mesma coisa. Mas as pessoas precisam respeitar os limites da natureza, como o período do defeso”, alertou João. Consciente, ele diz que é maravilhoso quem pesca pensando no futuro. “Todos nós ganhamos com isso, inclusive nossos filhos e as próximas gerações”, pontuou o pescador.