Enseada promove na Flica demonstração da ceramista Dona Cadu
Noventa e quatro anos de pura vitalidade. Dona Cadu, artesã maragojipana do distrito de Coqueiros, perdeu a conta de quantas demonstrações já fez por aí afora, disseminando a arte que aprendeu com seus antepassados, negros escravos do Recôncavo baiano. Dona Cadu foi um dos destaques do primeiro dia de Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), no stand que a Enseada Indústria Naval instalou na Praça Teixeira de Freitas.
Sob os olhos curiosos das pessoas que visitaram o espaço, Dona Cadu esculpiu tranquilamente suas canoeiras e frigideiras. “Quando vejo essa gente toda me olhando, me dá mais vontade de fazer melhor e bem feito. Fico toda ‘fofinha’ que você nem imagina”, falou a artesã se referindo ao orgulho que sente quando toca no barro molhado.
Segundo Dona Cadu, em dia normal de trabalho, 20 canoeiras grandes são produzidas por ela. Se for das pequenas, esse número aumenta para 25. “Eu trabalho muito, meu filho. Eu já trabalhei muito, desde os 10 anos de idade”, informou. De acordo com a artesã, quando ainda jovem, trabalhava na roça, no barro e ainda quebrava brita debaixo de sol, tudo num só dia.
Sandra Costa, coordenadora de Responsabilidade Social da Enseada, acredita que a ação desenvolvida pelo Estaleiro ajuda a perpetuar uma arte ancestral, que hoje é muito valorizada. “Dona Cadu é patrimônio do Recôncavo. Com sua arte, ela obtém renda e encanta quando está em ação. Fiquei feliz em saber que já transmitiu esse conhecimento a uma dezena de conterrâneas”, disse.
Julia Portela, de Salvador, foi uma das pessoas que admiraram o trabalho da artista. Ela está em Cachoeira justamente para participar da Flica e não se contentou em apenas olhar o trabalho de Dona Cadu: comprou um panelão de moqueca e ainda agradeceu a oportunidade de ter fotografado a admirável técnica. “Amei o jeito com que ela alisa o barro e molda a arte. Acredito que a comida fica até mais gostosa”, comentou toda feliz.
A demonstração de habilidade com as mãos continuou até o final da tarde, quando a experiente artesã negociou todas as peças do mostruário. À noite, na Casa do Iphan, foram exibidos os vídeos “A Barquinha de Enseada” e “II Encontro de Cheganças de Saubara”, rica manifestação cultural do interior baiano, que se apresenta no próximo sábado (01.11), no penúltimo dia da Flica.