Livro quilombola publicado pela Enseada é lançado em clima de sarau na abertura da Flica
A Enseada Indústria Naval inicou, nesta quinta-feira (30), as atividades culturais, lúdicas e educativas que vai promover durante a Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica), que foi aberta ontem à noite e vai até o próximo dia 2 de novembro. O dia começou bem animado com o lançamento do livro quilombola “A Dona das Águas”, na abertura da Fliquinha, que reuniu cerca de duzentas crianças, no Cine Theatro Cachoeirano.
A contação das histórias desse livro foi o ponto alto da programação. A atividade despertou entre os estudantes muita curiosidade, uma vez que interagiram bastante com os convidados – os autores do livro, o antropólogo Vilson Caetano e as primas quilombolas de Calembá, Emília da Cruz Santos e Edite Santos -, indagando-os sobre a publicação infantil.
Vilson Caetano, saudou o público e contou como o livro foi feito. “Conversamos com cada pessoa da comunidade. A gente vai ouvindo o que elas têm a dizer. Depois selecionamos os textos e apuramos as ideias, com a participação do coautor, o ilustrador Rodrigo Siqueira. Todo mundo pode ser um autor. Eu só copio, anoto aquilo que ouço. Popularizar as histórias das comunidades negras rurais de Cachoeira foi muito gratificante”, frisou.
O representante da Enseada na Flica, Pedro de Luna, afirmou que o sucesso que está começando a ser alcançado é fruto da experiência adquirida no ano passado. “O destaque desse ano, além da Fliquinha, é a ampliação do stand da empresa no evento. Não só distribuímos material institucional, mas também utilizamos o espaço como um local de educação e lazer. As crianças estão se divertindo com pintura, com os dez modelos diferentes de quebra-cabeças, com a coleção de livros quilombolas, brindes. Vamos distribuir 6 mil livros durante a Flica”, revelou Pedro.
Emília da Cruz Santos, uma das autoras de “A Dona das Águas”, falou um pouco da sua participação na obra. “A vida do meu povo, as coisas que acreditamos estão nesse livro. A vida de maré, marisco, as nossas dificuldades. Vendo azeite, ostra, peixe (quando tem), governo canoa. Ainda trabalho duro. Sou forte, pois tive 16 filhos”, ressaltou. Sua prima, Edite dos Santos, contou o significado da publicação para o seu povo. “Nunca saímos em nenhum papel colorido. Agradeço ao Estaleiro por mostrar a nossa cultura e as tradições do passado que permanecem vivas. Eu tô toda emocionada”, completou.
Vânia Conceição é coordenadora na Escola Municipalizada Hildérico Pinheiro de Oliveira, em Maragojipe. Ela se deslocou com quatro colegas de trabalho e estudantes do 1º, 2º, 3º, 4º e 5º anos para acompanhar, pela primeira vez, uma edição da Fliquinha. “As crianças estavam sem saber o que iriam encontrar. Estavam curiosíssimas. Olha só como estão agora, bem à vontade. Isso é muito lindo, mágico. Quando a magia é benéfica, a energia é milagrosa. É muito contagiante”, destacou.
Uma das estudantes presentes, Mariane Santos, de 9 anos, não se continha em sorrisos. A aluna da Escola Municipal Nazaré Falcão, em Santo Amaro, achou a história muito bonita e criativa. “Vou levar o livro para casa para ler com mais calma e atenção”, disse a santamarense, que foi conhecer a Flica com mais 47 colegas. As atividades promovidas pela Enseada continuaram na praça ao lado do Theatro, onde está montado o stand da empresa. O destaque foi a demonstração da arte e da técnica de Dona Cadu, artesã quase centenária, que faz das mãos um pincel para esculpir tachos e panelas de barro perfeitos.